10° Aula: Aula prática
no Hospital da Ceilândia
A aula prática tem como objetivo colocar em exercício todo o
conhecimento adquirido nas aulas teóricas. Mas quando chegamos de fato ao
hospital vemos que nada é protocolado, nada é tão simples. Com a diferenciação
de cada individuo naquele recinto, seja ele um paciente, um familiar do
paciente, o médico que está atendendo, o enfermeiro que está acompanhando, fica
claro que a abordagem nunca será a mesma e nunca será da forma como você
planejou. A individualidade de cada
paciente, a historia de vida, a situação que o colocou ali, a forma como ele
lida com isso, sua personalidade, tudo é muito diverso e faz com que sua
abordagem às vezes mude de foco. Essa dinâmica não depende somente de você, mas
do ambiente envolvido. Achei uma experiência válida para minha formação e acho
que esse contato deveria acontecer mais vezes, pois penso que para aperfeiçoar
uma pratica você precisa vivencia-la.
Fiquei no setor da pediatria, e estava vazio lá. Fomos em
duplas. Eu e minha parceira conseguimos fazer a anamnese de dois pacientes, e
tentamos conversar com uma criança que estava na brinquedoteca (mas ele não falava muito). O
primeiro momento foi difícil pela nossa inexperiência, mas as mães das crianças
eram bem pacientes e isso ajudou. No primeiro caso a criança era um menino de
aproximadamente 6 anos e havia ido para lá após um desmaio. Os médicos diagnosticaram
e viram que era um sopro no coração e que necessitaria de cirurgia. O que a mãe
mais se queixava era que teria que deixar o emprego, de domestica, para poder
cuidar do filho antes e após a cirurgia. Segundo ela isso não a afetaria financeiramente,
já que o provedor da maior parte da renda domestica é o marido, mas para ela o
trabalho era significativo e importante. Segundo relatos da mãe o filho se
queixava de saudade das irmãs e de não ter alguém para brincar, já que a
rotatividade na ala infantil é muito grande.
Apesar da preocupação natural pelo susto, já que havia quatro dias que ela
receberá o diagnostico, ela me parecia estável emocionalmente.
No segundo caso, a criança era uma menina de aproximadamente
um ano com infecção urinaria. A mãe estava bem, e a paciente receberia alta
naquele mesmo dia. Não relatou nenhuma queixa, apenas explicitou que para a
filha era um pouco estressante porque ela não estava alimentando-se adequadamente
por falta de apetite.
Faríamos uma terceira intervenção, mas quando entramos no
quarto o paciente iria fazer um procedimento médico, então achamos melhor
deixar o acompanhante acompanhar o procedimento que seria feito, para não
interferir em sua individualidade.
Material complementar: Como material complementar sugiro o
filme “O Amor é Contagioso” com o ator Robin Williams. Conta a historia de um
homem que após tentativa de suicídio resolve se internar por espontânea vontade
em um sanatório. Sua estadia fez com que ele ajude-se vários internos, e então
desperta nele a vontade de se formar em medicina para poder ajudar mais
pessoas. Quando entra na faculdade ele usa métodos pouco convencionais para se
aproximar dos pacientes, e acaba gerando amizades e inimizades com a sua
abordagem. Achei pertinente pois revela a humanidade que existe em todos nós.
Nos faz refletir melhor a forma como podemos nos relacionar seja com pacientes,
seja com colegas de trabalho. É um filme realmente excepcional e apaixonante.